FCT - Formula Student

Enquanto membros fundadores deste projecto, é com orgulho que chegamos à conclusão de que a Photorevvin' já teve o condão de altera...

Enquanto membros fundadores deste projecto, é com orgulho que chegamos à conclusão de que a Photorevvin' já teve o condão de alterar um pouco os nossos cânones automobilísticos, na medida em que passámos a prestar maior atenção a determinados meios, o que nos leva a realizar artigos dedicados a temáticas que até há algum tempo nos passavam facilmente ao lado. O artigo que produzimos há uns meses sobre a FEUP Motorsport abriu-nos os olhos no sentido de nos mantermos atentos a equipas e projectos baseados em instituições de Ensino Superior. Se a nossa estreia neste sentido passou pela “Cidade Invicta”, o Porto, desta vez nem precisámos de sair da Margem Sul do Tejo, necessitando apenas de fazer uma curta deslocação ao campus da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, o único da instituição situado por estas bandas, para conhecer a FSFCT, a equipa que vai representar esta faculdade na Formula Student em Julho de 2017.
Antes de entrarmos em pormenores, há que incluir alguma contextualização, primeiro sobre o campeonato em si, e logo em seguida sobre esta equipa, uma vez que é na última que o presente artigo se foca. A Formula Student tem a sua génese nos Estados Unidos, decorria o ano de 1981, tendo nascido desde logo como uma competição entre universidades em que cada uma das instituições concorrentes tem que construir o carro com que participa. Sendo uma ideia da SAE International, antiga Society of Automotive Engineers, o propósito maior desta competição foi o desenvolvimento de competências práticas, de trabalho de equipa e gestão de projectos dos estudantes envolvidos, uma vez que se chegou à conclusão que estes ingressavam na indústria automóvel com fortes lacunas nas valências acima referidas. O sucesso desta iniciativa foi tal que a Formula Student acabou por se expandir além-fronteiras, sendo actualmente uma competição disputada em três continentes (Europa, América e Ásia), envolvendo cerca de 450 equipas todos os anos. Na Europa, a mesma está presente em seis países, Espanha, Itália, Áustria, Hungria, Alemanha e Inglaterra, sendo que é para o último que a FSFCT aponta as suas armas, mais concretamente para o circuito de Silverstone.
A equipa, que começou a formar-se em Maio de 2015, é constituída por nada menos que trinta membros, todos eles estudantes da FCT-UNL, e provenientes das áreas de Gestão Industrial, Materiais, Informática, Electrotécnica e, claro, Mecânica. Podemos afirmar que o “Girl Power” é parte integrante da FSFCT, uma vez que este projecto é liderado por Diana Franco, uma das seis mulheres que esta equipa integra. A estrutura da equipa distribui-se por áreas do carro, num total de nove sub-equipas. A saber:
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Relações Empresariais
Carlos Guimarães, Rodolfo Simões e Vasco Leitão
Planeamento
Mariana Vinhas
Propulsão e Transmissão
Gonçalo Garcia, Gustavo Lopes e Diogo Vitorino
Suspensão e Direcção
Ricardo Paulo, Tiago Álvares, Maria João Branco e Sergiy Tsyshkovskiy
Chassis
Rúben Garcia e Bruno Barroca
Travões
João Bentes, Diogo Rodrigues, Diogo Freire e Miguel Álvares
Aerodinâmica
Bruno Duarte, Filipa Monteiro, João Serra, Catarina Valente e Danyal Valy
Electrónica
Ricardo Pires, Luís do Ó, Frederico Inácio e Rafael Rodrigues
Dinâmica do Veículo
João Mourão e Andrei Criulean
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As três dezenas de elementos que integram este ambicioso projecto têm como produto final o pequeno mas muito funcional monolugar que podem ver na imagem que abre este artigo. Muito embora ainda haja muito passo a dar na concretização deste objectivo, uma vez que a equipa ainda se encontra em fase de produção e angariação de componentes, que têm chegado das mais variadas empresas, o chassis de teste já se encontra concluído e o motor, que pudemos ouvir a plenos pulmões nesta visita, já repousa na oficina. Passos sem dúvida muito importantes numa equipa com que conta com pouco mais de 1 ano de existência.
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Ficha técnica
Motor Honda, proveniente da CBR 600 F4i. 110 cv, 65 Nm de binário Caixa de velocidades sequencial Chassis realizado em aço  AISI 4130 Suspensão independente, com braços sobrepostos desiguais e não paralelos e sistema push-rod (oblíquo na suspensão dianteira, horizontal na traseira) Travões de disco às quatro rodas Carroçaria, asas e fundo plano em fibra de carbono Injecção electrónica, com gestão da mesma feita de raiz pela equipa
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Sendo a FSFCT uma equipa jovem e atenta às novas tendências tecnológicas, não é de espantar que tanto a maquete do carro como alguns componentes experimentais do mesmo, como os cubos de roda, tenham sido realizados através do processo de impressão 3D, uma forma de aproveitar condignamente os recursos que a faculdade coloca à disposição, e um método a considerar cada vez mais no que toca a produzir peças de teste a um custo relativamente baixo. De referir que muito do tempo útil da FSFCT tem sido (bem) gasto na promoção do projecto nos mais variados locais, passando por Salões Automóveis, Conferências, fábricas como a Autoeuropa e até mesmo outras instituições de ensino, na tentativa de aumentar tanto a notoriedade da equipa, como uma lista de parceiros que já conta com entradas como o Bilstein Group, a K&N, a Exide e... a Revista Turbo, que já dedicou um artigo à equipa, aquando do primeiro aniversário desta. Já que referimos o esforço que a  FSFCT aplica na sua divulgação, não podemos deixar de abordar a forte aposta na componente online, sendo possível saber as últimas deste projecto nas seguintes plataformas:
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Apesar de relativamente pequeno, não podemos deixar de relevar o potencial do centro nevrálgico da FSFCT, a oficina. Mais que o simulador montado em permanência no local,  ficámos positivamente supreendidos com a presença de um túnel de vento neste espaço, o qual revelar-se-à bastante útil para aprimorar a componente aerodinâmica do monolugar que aqui está a nascer. Mesmo que as características físicas do mesmo não permitam testar veículos de tamanho regular, é perfeitamente possível ajudar a tornar o carro da equipa mais esguio através da construção de maquetes à escala, uma técnica que até na Fórmula 1 colhe resultados. Mais que um importante contributo no bom rumo da “ordem de trabalhos” da equipa, é um recurso que aumenta a componente de construção quase inteiramente in house deste projecto, o que é sempre de louvar.
Mesmo tendo apanhado a equipa num dia algo atarefado, ainda conseguimos arranjar algum espaço para entrevistar Diana Franco, o rosto principal da FSFCT, numa conversa que versou nas motivações, desafios, balanço do trabalho feito até agora e planos de futuro para este projecto.
Tens quase três dezenas de pessoas sob alçada, um projecto ambicioso em velocidade de cruzeiro e, dentro de um ano, estarão a representar a FCT-UNL em Inglaterra. O que é que te levou a pensar “Ok, isto da Engenharia Mecânica é giro, mas a minha vida académica precisa de ser mais caótica”?
Diana Franco (DF) - Desde o meu primeiro ano de faculdade que me envolvo nos mais diversos projectos. Antes deste projecto, era coordenadora de marketing do BEST Almada. Acho que um curso superior não se deve limitar às aulas e aos testes ou exames. Devemos aproveitar todos os recursos que a faculdade tem ao nosso dispor, bem como alargar o nosso leque de conhecimentos. Quando a ideia do FSFCT surgiu, vi nela uma excelente oportunidade quer de dar a conhecer o valor dos alunos da FCT quer de aplicar todos os conhecimentos que, enquanto estudante de Engenharia Mecânica, tenho vindo a adquirir.
Vivemos num mundo em que, felizmente, temos mulheres em cargos de chefia no desporto automóvel, até na Fórmula 1. O facto de te encontrares a liderar a FSFCT representa um desafio pessoal ou uma eventual opção de futuro em termos laborais?
DF - Liderar este projecto representa um desafio pessoal enorme, mas não por ser mulher. O desafio provém da dimensão da competição e do projecto em si. Provém dos prazos apertados, da gestão quer dos elementos quer do trabalho produzido entre equipas, da necessidade constante de recursos e das parcerias que estabelecemos. Quanto ao meu futuro, acho que todas as opções se mantêm em aberto. Contudo, isto é sem dúvida uma área que me apaixona.
É inegável que esta equipa concentra muito talento, mas há uma forte componente de aprendizagem em todo este processo que é decorrente da estreia nestas andanças. Em termos colectivos, quais são para ti as maiores virtudes desta equipa e, por outro lado, em que áreas sentes que é preciso investir mais para que corra tudo pelo melhor em Silverstone?
DF - Em termos colectivos, eu acho que conseguimos formar uma equipa muito forte, principalmente pela nossa diversidade e união. As barreiras que temos que ultrapassar por sermos a primeira equipa de FSFCT, tornam-nos mais fortes. Tudo é pensado e estudado com afinco, as decisões são devidamente calculadas. Contudo, também somos impulsivos e extremamente ambiciosos. Ou seja, somos um misto entre perfeccionismo e optimismo que tem sido o maior motivo do nosso sucesso. E o nosso carro vai ser uma reflexão disto mesmo, sendo o nosso principal objectivo conceber um veículo eficiente e seguro.
Sendo este um projecto que depende de doações e parcerias para chegar a bom porto, têm conseguido cumprir as vossas deadlines ou já tiveram que alterar prioridades por ausência de componentes?
DF - As deadlines de um projecto que depende de parcerias externas são muito difíceis quer de estimar quer de cumprir. Eu tenho uma regra: estimo o tempo que irei necessitar multiplicando o mesmo por pi (3,14). Contudo, nem isso às vezes chega. Dou por mim muitas vezes a dar prazos herculanos à minha equipa para conseguir cumprir algumas das metas que temos. Para além disso e tocando no assunto da ausência de componentes, o facto de dependermos de patrocínios também nos leva a projectar tudo de uma forma um pouco diferente. Sabemos quais são as nossas limitações e, muitas vezes, temos que optar pelo possível quando comparado com o ideal.
Ainda vos esperam alguns desafios de magnitude considerável nas etapas que estão por cumprir. Têm conseguido manter este projecto em marcha sem prejudicar os estudos?
DF - Conciliar um projecto desta magnitude com os estudos não é fácil, mas temos conseguido. O efeito que o projecto tem nas classificações que obtemos, tem-se mostrado residual quando comparado com o que temos alcançado. Óbvio que fazemos uma gestão muito mais apertada do tempo disponível, mas foi uma escolha que fizemos e acho que estamos todos a ganhar imenso com este projecto. Para além disso, e como esta sempre foi uma preocupação minha, todos os prazos que dou à equipa têm em consideração os momentos de avaliação a que cada elemento está sujeito.
Assim que o monolugar que estão a construir estiver completamente materializado e pronto a rolar, como decorrerá o processo de testes? O nosso antigo ex-líbris em termos de pistas, o Autódromo do Estoril, é frequentemente palco de track-days com mangas específicas para carros de competição. Poderemos algum dia ver o vosso carro a ser testado nestas circunstâncias ou o regulamento da Formula Student é mais restrito nesse aspecto?
DF - O regulamento não restringe qualquer tipo de teste que queiramos fazer ao veículo. Quantos mais testes fizermos, melhor será a nossa preparação para as provas a que nos vamos propor, uma vez que conseguiremos corrigir pequenas falhas que o carro possa vir a ter. Por isso, iremos testá-lo em pista no KIP (Kartódromo Internacional de Palmela) com qual temos uma parceria. 
Portanto, uma equipa coesa, que tenta converter os seus handicaps em pontos fortes com a maior brevidade possível, conduzida por uma mulher de armas que sabe o que tem a fazer tanto no que toca a motivar os seus pares como a levar este projecto a bom porto? Parece-nos ser o tipo de estrutura que a Photorevvin' tem que ver evoluir, até porque, uma vez visto o esqueleto deste Formula Student, sentimo-nos expectantes para ver os restantes componentes passarem a ser unos com este chassis, de preferência em fotos do tipo panning, nas sessões de testes que naturalmente surgirão.
A competição automóvel mexe com paixões, isso é inegável. Mas, indubitavelmente, mexe também com conhecimento teórico e empírico, e é nesta simbiose que a FSFCT nasceu, cresceu e move mundos e fundos para, em 2017, se apresentar à partida de uma das melhores competições de base estudantil do mundo. Não nos resta apenas desejar boa sorte a esta equipa, isso seria muito pouco da nossa parte. Por questões de proximidade geográfica, dimensão do projecto e objectivo final do mesmo, assumimos o compromisso de acompanhar estes trinta “bravos do pelotão” o mais que possamos, pelo que este é apenas o primeiro de alguns artigos dedicados à FSFCT com a nossa assinatura.
À Diana, e a todos os presentes naquela tarde, o nosso muito obrigado por nos terem recebido e posto completamente à vontade para produzir o artigo que estão a ler. Gostamos de acreditar que a palavra Friends que incluímos nesta rubrica não é usada por nós em vão, e estamos em crer que esta equipa ainda nos trará muitas histórias que reforçam o significado dessa palavra. Tanto a título individual como colectivo, ficámos seguidores, e quem segue, divulga, pelo que, na devida altura, voltamos à carga com este grupo.
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Até lá!
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