G-Tech

Quando uma simples partilha de um artigo nosso no Facebook se transforma num convite para conhecermos as instalações de uma equipa de co...

Quando uma simples partilha de um artigo nosso no Facebook se transforma num convite para conhecermos as instalações de uma equipa de competição. E não, não estamos a omitir detalhes. Foi desta forma, simples, fora do comum e acima de tudo inesperada, que ficámos a conhecer os bastidores da G-Tech, uma equipa que já tinha despertado o nosso interesse em várias edições do Estoril Experience Day, mas cuja dimensão da sua actividade desconhecíamos por completo.
Passar uma tarde na companhia de carros que só conhecem o alcatrão das pistas? Vamos a isso!
Iniciando a sua actividade em 2010, e liderada por Fernando Mayer Gaspar, a G-Tech é uma equipa especializada na preparação, assistência e aluguer de carros de competição.
Com sede na Aldeia de Juzo, a poucos minutos do Autódromo do Estoril, esta equipa encontra-se actualmente focada na preparação de monolugares (ou Formulas, se assim o preferirem) para duas séries integradas em campeonatos de velocidade nacionais, a Single Seater Series, de momento o único campeonato de monolugares Português, bem como para a Classic Super Stock, um campeonato mais acessível para carros clássicos. Convém referir que a génese de ambos os campeonatos recai nos ombros da G-Tech, que propôs a criação dos mesmos como forma de fazer correr alguns carros que, por não cumprirem regulamentos actuais, estavam limitados a rodar apenas em track-days.
Isto vai ao encontro de um dos fundamentos principais desta equipa, garantir que é possível competir a preços acessíveis, sem poupar na competitividade. Dada a sempre sensível conjuntura económica do nosso país, este mindset é sempre de salutar, uma vez que permite que haja não só uma maior diversidade de competições automóveis em Portugal, como também possibilita que alguns jovens iniciem e desenvolvam a sua carreira desportiva. Coincidência ou não, o driver coaching é outra das actividades a que a G-Tech se dedica actualmente.
Entrar na oficina da G-Tech, que no fundo é uma estufa reaproveitada (o nacional desenrascanço tem algo de encantador, não tem?) é, de certo modo, abrir a porta do passado.
Como assim? Para onde quer que olhemos, encontramos velhas glórias. Um Datsun 1200 aqui, um Escort RS2000 ali, Formula Ford um pouco por toda a parte... Mas estas são velhas glórias, sim, mas vivas e de boa saúde. Manter um carro clássico é, no nosso entender, um acto louvável, pois mais que um objecto antigo, preserva-se um pedaço de história. Manter no activo clássicos de competição roça o heróico, uma vez que, mais que zelar pela sua correcta manutenção, o processo de procurar peças, estabelecer contactos para outras paragens ou ter mesmo que mandar fabricar de raiz determinado componente que só por artes mágicas se consegue encontrar no respectivo fabricante, consome sempre tempo importante para uma equipa de competição.
No entanto, ficamos espantados quando o Fernando nos refere que algumas peças aguentam uma época inteira sem grandes problemas. A título de exemplo, reparámos que muitos dos Formula Ford montam os excelentes Toyo R888, um pneu semi-slick frequentemente visto em track-days. E num monolugar destes, os pneus chegam ao fim do campeonato sem grandes perdas de eficácia! Se já tínhamos estes pneus em excelente consideração, depois de ouvirmos isto, ganhámos um respeito ainda maior pelo composto da Toyo. E não é que os carros sejam conduzidos a ritmo pacato, longe disso.
Ouvir os dois Fernandos (pai e filho) enquanto a visita guiada às instalações da equipa prossegue, para além de ser uma lição, quase tertúlia até, sobre o que é fazer vida das corridas de automóveis, é ser o receptor de histórias verdadeiramente fascinantes, que tanto podem envolver uma explicação das forças G na descida que se segue à Paddock Hill Bend de Brands Hatch, como o relato de um Toyota 2000GT deixado em África por um importador da marca, cujo rasto se perdeu por completo. E o Fernando “sénior” confessa-nos que movia mundos e fundos no sentido de tentar encontrar o carro. Também nós... Esta história em particular arrepiou-nos, e mexeu connosco a ponto de ter sido tema de conversa durante um bom bocado quando saímos das instalações da equipa. É um daqueles episódios que nos parecem irreais até alguém nos contar, e quando tal acontece, pura e simplesmente não sai da memória...
Passemos a acontecimentos mais felizes, que ainda temos muito para contar.
Dentro da G-Tech, e liderada por Madalena Mayer Gaspar, encontramos também a Formula G, uma empresa de design e publicidade cuja origem remonta a 1993, acumulando à data as funções actuais com a importação e distribuição de artigos de modelismo, com especial foco nas vertentes de radio-control e slot cars. Esta última actividade prolongou-se até 2002, altura em que o ritmo de trabalho e o facto de tratar quase em exclusivo da publicidade dos carros participantes da Fórmula Novis, Troféu Mazda e Troféu Honda ditam o fim da linha da Formula G neste sector.
Em nome do rigor, a G-Tech é um produto da Formula G, uma vez que o status quo actual da equipa é o resultado de um envolvimento cada vez maior da Formula G nos desportos motorizados ao longo dos anos. Uma génese fora do comum, sem dúvida, mas que constitui o passo natural quando a paixão pelos automóveis fala mais alto. O que, convenhamos, raramente deixa de acontecer.
Muito embora seja uma empresa pronta a responder aos desafios dos seus diversos clientes, foi nas modalidades ligadas ao mar que a Formula G encontrou uma oportunidade de mercado, através da decoração de cascos e velas e personalizando vários equipamentos desportivos. Desde 2014, é também à Formula G que cabe a tarefa de promover as já referidas Single Seater Series e Classic Super Stock. E, dentro de algum tempo, contaremos com a sua ajuda para uma ideia que não nos tem saído da cabeça.
Na altura certa, adiantaremos mais pormenores.
Voltando à G-Tech, o nosso trabalho pela sede da equipa está concluído. Quer isto dizer que o artigo termina aqui?
Não, de todo. Próxima paragem, Autódromo do Estoril. Boxe nº 1 para sermos mais precisos.
Sábado, 9 de Abril.
Chegamos ao Estoril por volta das 10 da manhã, estacionamos o carro no paddock e seguimos logo para o espaço ocupado pela equipa, que trouxe consigo cinco Formula Fords. A saber:
Ray 98 com motorização Kent (Nº7), pilotado por Vasco Sampaio;
Mygale SJ00 (Nº29), pilotado por Duarte Pires;
Mygale SJ99 (Nº43), pilotado por António Almeida, a ter aqui a primeira experiência ao volante de um Formula Ford;
Mygale SJ00 (Nº44), pilotado por Fernando Mayer Gaspar;
Vector MG01 (Nº77) pilotado por Vítor Sampaio, que estreava uma nova traseira desenhada e construída “in house”, bem como pontões redesenhados.
Cumprimentamos os elementos do clã Gaspar e começamos desde logo a tirar fotos.
O bom de fotografar uma boxe onde esteja uma equipa de competição é haver um sem número de elementos que garantem imagens interessantes, seja um capacete, um capot pousado no chão, ou um piloto que se concentra para o próximo stint. Mais uma vez, deixam-nos completamente à vontade para fazer o nosso trabalho. Aliás, se há algo em que os Gaspar são exímios, é a fazer-nos sentir em casa. Talvez resida aqui a explicação para vermos a boxe da G-Tech constantemente ocupada por pessoas exteriores à equipa a cada novo Estoril Experience Day, não sendo de todo incomum ver trabalho e convívio a coexistir pacificamente ao longo do dia.
Do interior da boxe, seguimos para a Parabólica Ayrton Senna, para acompanhar o duelo entre Fernando Mayer Gaspar e Duarte Pires, que resolveram rodar juntos o máximo de tempo possível neste track-day... apenas por gozo. Conseguir focar estes dois num panning não foi tarefa fácil, uma vez que a brincadeira não decorreu de forma exactamente lenta e só avistávamos os Formula Ford quase na altura em que estes passavam por nós. No entanto, conseguimos ainda algumas imagens desta disputa, e a dada altura, um de nós exclama ao outro:
Se rodar na pista com um carro normal já é a adrenalina que é, imagina num Formula...
Felizmente, existe um cubinho chamado GoPro, que permite a gravação de vídeos como este:
Dois minutos e meio de emoções fortes.
Segue-se a pausa para almoço, e logo após o término desta, fazemos mais uns quilómetros pelos corredores técnicos do Autódromo, aproveitando sempre para tirar mais algumas fotos a cada nova passagem dos carros da G-Tech.
Sem dúvida que os Formula Ford são muito vistosos, mas temos que admitir que nutrimos uma ligeira preferência pelo “tubarão” guiado por Fernando Mayer Gaspar, com uma decoração no nariz que é fácil de resumir em apenas duas palavras: Maximum Attack. Infelizmente, o Mygale não chegaria ao fim do último Experience Day, tendo sofrido um problema mecânico que, embora pouco preocupante, não permitiu sequer que o carro chegasse pelos próprios meios ao pitlane. Posto isto, convém referir que uma “desistência” em cinco presenças é, ainda assim, uma excelente campanha e um bom shakedown antes do arranque de mais uma época da Single Seater Series.
Desde já, desejamos muito boa sorte para as corridas que se avizinham!
Se há uma lição a tirar das horas que acumulámos na construção deste artigo, é a de que, quando o espírito competitivo e a paixão pelas corridas correm vigorosamente pelas veias, algo de grande valor pode surgir.
Há muitos anos que os Gaspar conhecem este mundo, e isso é notório em poucos minutos de conversa. No entanto, só há pouco mais de meia década é que transformaram o que os move num projecto que, mais que ter pernas para andar, é a prova cabal de que podemos sempre dar o nosso contributo para melhorar o ambiente que nos rodeia. Mais que uma equipa de competição, a G-Tech é um excelente exemplo de “serviço público” no panorama da velocidade nacional. Mais que preparar e assistir carros de competição, lançou mãos à obra e criou novas nuances, novos motivos para justificar mais aquela ida a uma pista, para lançar mais uma carreira, para ver nascer mais um campeonato. É preciso ter uma certa sensibilidade a complementar a paixão para se pensar de forma tão abrangente. É preciso gostar mesmo muito do meio em questão para lhe acrescentar conteúdo. E é preciso uma certa maneira de estar na vida para abrir as portas de uma “escuderia” a dois rapazes a tentar conquistar um espaço dentro do universo automóvel Português.
Por estas razões e mais algumas, temos o maior respeito pela G-Tech, pelo que foi um enorme privilégio termos conhecido a família Gaspar e o que criaram, um autêntico case study e uma lufada de ar fresco numa modalidade que ainda vai conhecendo fortes oscilações nos sinais vitais no nosso país.
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*(em desenvolvimento)

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