Cinque Cilindri, Venti Valvole

Ou “Vermelho, Italiano e com 70.000 kms, Capítulo 2”. Alguns dos acontecimentos mais felizes na vida de alguém não passam de meras co...

Ou “Vermelho, Italiano e com 70.000 kms, Capítulo 2”.
Alguns dos acontecimentos mais felizes na vida de alguém não passam de meras coincidências, ocasiões em que tudo bateu certo para algo acontecer de determinada forma. E, quando olhamos em retrospectiva para esses momentos, não temos como não esboçar um sorriso.
E vocês, os nossos amigos e seguidores, perguntam-se “o que raio estão estes rapazes para ali a falar”? E é legítimo que questionem. Pois bem, acompanhem o nosso raciocínio. A sessão que realizámos ao Delta Integrale do Pedro, que publicámos na semana passada, deu-nos a conhecer um automóvel vermelho, proveniente do país que, visto de cima, se aparenta com uma bota e com cerca de 70.000 kms no quadrante. Cerca de 24h após este encontro, temos diante de nós um... automóvel vermelho, proveniente do país que, visto de cima, se aparenta com uma bota e com cerca de 70.000 kms no quadrante. É de coçar a cabeça e perguntar como é possível acontecerem episódios como este.
Estamos na Parede, mais concretamente no Restaurante Montecarlo, local a que rumamos sempre que nos apetece degustar uma refeição em ambiente petrolhead, e propriedade de um amigo de ambos. Hoje ficamo-nos pelo café, enquanto esperamos que o David, outro amigo da “malta”, chegue, ao volante do seu Fiat Coupé 20VT. Será a primeira vez que fotografamos o carro de alguém que nos é bastante próximo, o que é um bom prenúncio para a nossa estreia a fotografar automóveis desta marca para um artigo Coffee Break. São já alguns os amigos da Photorevvin', ou seja, as pessoas com quem passámos a conviver regularmente graças a este projecto, mas poucos os que já o eram e manifestaram interesse em ter uma sessão com a nossa assinatura. Será o David o primeiro de alguns? Esperamos bem que sim.
Não passa muito tempo até avistarmos o carro e a cara que aguardávamos, que se senta ao nosso lado na esplanada mal fecha a porta do Coupé. Os contornos da tarde ainda não estão muito bem definidos, pelo que é esse o principal tema de conversa dos próximos minutos. Assim que acordamos o itinerário, fazemo-nos à estrada. Para um de nós, é a primeira experiência a bordo de um Fiat Coupé, e logo na motorização mais pujante. É hora de confirmar se tudo o que dizem a respeito deste carro, principalmente pelo lado negativo, se verifica ou não passa de especulação.
Entramos na Marginal, tendo como primeiro destino a Serra de Sintra. Mesmo nos primeiros quilómetros, é fácil perceber a orientação GT deste carro, já que o nível de conforto a bordo é surpreendentemente elevado, mesmo para quem circula atrás. Claro que ajuda que um de nós tenha menos de 1,80m, mas não nos sentimos minimamente claustrofóbicos nos lugares posteriores. Começamos a ficar encantados com a sonoridade do enorme 5 cilindros: rouca, carnuda e com um troar ligeiramente metálico, sem nunca se tornar cansativa para os ouvidos, até porque o Coupé é muito bem insonorizado interiormente. Juntando a isto os bancos em pele, o ar condicionado automático e o tecto de abrir eléctrico, quase que nos sentimos numa berlina de segmento elevado, pelo menos até “caírem” uma ou duas relações de caixa e ficarmos agarrados às poltronas deste Fiat. Sempre são 220 cavalos, que nas circunstâncias erradas nos deixam facilmente com uma grande multa por pagar, ou pior.
Chegamos à Serra, e somos confrontados com uma descida de temperatura tal que mais parece estarmos em Outubro ou Novembro numa questão de minutos, cortesia do microclima desta zona. O Coupé é de facto um automóvel muito anguloso, e a zona que escolhemos para dar início a esta sessão revela-se muito interessante para realçar algumas das linhas que mais definem esta carroçaria, graças ao elevado número de sombras criadas pelas árvores em redor. O vermelho vivo deste Fiat exerce um contraste perfeito com os tons verdes e castanhos deste cenário, o que resulta num número expressivo de imagens a considerar para o artigo.
Mas... sem grande surpresa, voltamos a ter problemas com a ocupação indevida de estradas que não devem muito à largura, o que faz com que o David seja mais um dos membros que, à força, passa a pertencer ao clube tira o carro daí, do qual somos membros fundadores. É, pelo menos, a terceira sessão que fazemos em que o proprietário do automóvel que estamos a fotografar tem que entrar e sair constantemente do carro para dar passagem a outros veículos, sendo que não devemos ficar muito bem na fotografia daqueles a quem atrasamos a viagem. Mas o Coupé parece estar a ficar bem nas nossas, felizmente. Dado que o tráfego parece não querer abrandar, entramos no 20VT assim que ficamos satisfeitos com as imagens obtidas neste spot, tendo como próxima paragem um local que visitamos com bastante frequência, mas nunca no contexto de uma sessão. No entanto, o caminho ainda é relativamente longo até lá chegarmos.
O passeio pela Vila de Sintra volta a dar ênfase à orientação de cruiser do Coupé. Embora embalados pela melodia que tem origem debaixo do capot, não existem pancadas mais secas provenientes da suspensão, dores de costas motivadas por bancos mal esculpidos, ou calor a invadir o habitáculo proveniente do cofre do motor. Não contávamos com um carro tão civilizado, mas a verdade é que é no interior que sentimos mais que o Coupé (nesta motorização, pelo menos), é um autêntico sleeper. Mesmo que esse não seja de todo o uso ideal para um automóvel com estas características, a verdade é que um pai de família mais aventureiro pode utilizar um Coupé no quotidiano sem grandes concessões. A dualidade de carácter deste carro está a ser uma agradável surpresa, e a passagem por zonas mais frequentadas deste belo recanto a poucos quilómetros da capital mostra que ainda há cabeças que se viram à passagem deste Fiat. Gostamos de chamar a isto o efeito Pininfarina.
Finalmente, após vários minutos a ritmo de pára-arranca, sempre habitual em dias de fim-de-semana nestas paragens, conseguimos deixar Sintra para trás, embora nos mantenhamos nas redondezas. Talvez já tenham adivinhado por esta altura, mas é no Autódromo do Estoril que queremos dar continuidade às fotos, mais concretamente nas imediações da Bancada B, onde é possível parar o carro mesmo debaixo deste edifício, se é que assim o podemos designar.
Sempre nos questionámos o que escondem os portões desta bancada. A nossa faceta mais sonhadora gostaria de acreditar que estas garagens estão repletas de clássicos de competição, mas o mais provável será mesmo servirem de armazém ou não terem nenhuma função definida. Mas ainda havemos de arranjar forma de conseguir desvendar este mistério... De qualquer forma, a única “averiguação” que nos trouxe a este local foi precisamente conferir se vale a pena fotografar o Coupé aqui. A resposta é um inequívoco SIM. Há que manobrar o vistoso Italiano com cautela, visto que o piso é algo irregular, tornando-se progressivamente pior quanto mais se avança. Ou recua, neste caso, já que preferimos que o carro entre de “ré”. Já que a paragem irá ser relativamente prolongada, é neste momento que o David começa a aprofundar os detalhes que o levaram a adquirir um dos mais famosos automóveis Italianos dos anos 90. Na sua posse desde Novembro de 2014, e adquirido com 68.000 kms, este Coupé teve como primeiro dono um senhor que se viu obrigado a vender todos os carros que tinha em seu nome por questões de saúde, que o impediram de conduzir com regularidade. Isto levou a que o carro fosse parar a um site de classificados. Por mero acaso, o David deu de caras com o anúncio, gostou do que viu, e pensou para ele mesmo:
 "Eu tenho que ter este carro..."
E assim foi. Apesar de já se encontrar reservado quando o David foi ver o 20VT pela primeira vez, a verdade é que a quantia necessária à mudança de mãos nunca surgiu, o que deixou o Coupé livre para o actual proprietário, que curiosamente, não o adquiriu por razões estéticas, mas sim pelo exotismo da mecânica. E percebe-se porquê. Afinal de contas, são relativamente poucos os fabricantes que apostaram em motores de cinco cilindros, com a Audi e a Volvo a serem alguns dos exemplos que nos vêm à memória. E, tendo em conta que o David é um rapaz que passa horas a fio a cuidar dos automóveis que possui, é caso para dizer que este Coupé não podia ter acabado em melhores mãos, mãos essas que estão mais que calejadas no que toca ao Do It Yourself.
O processo de aquisição do Coupé fez passar o tempo muito rapidamente, e já se impõe uma mudança de ares para diversificar as imagens obtidas. Pedimos ao David que suba para a estrada paralela à bancada, para as fotos de pormenor. Chega a ser exaustivo captar todos os traços deste automóvel. Se é certo que a estética do mesmo não é consensual, é inevitável chegar à conclusão que todos estes detalhes formam um todo que só pode ser confundido com um único automóvel, e apenas ao longe. Estamos a falar, claro, do Alfa Romeo GTV da mesma época, irmão do Coupé em vários aspectos, mas com uma abordagem estética mais conservadora, que talvez reúna mais fãs, mas não ensombra o desenho que este Fiat ostenta . As fotos continuam a acumular-se no cartão de memória, até darmos este spot como utilizado em pleno para o que pretendemos. No entanto, não será aqui que esta sessão termina. É tempo de voltar ao habitáculo do 20VT.
Para chegarmos ao local onde queremos fechar a componente fotográfica deste artigo, é necessário passar pela Lagoa Azul, uma estrada que todos os petrolheads claramente detestam. Embora o traçado seja entusiasmante, seguimos em ritmo de passeio, uma vez que temos algum tráfego à nossa frente, e não estamos propriamente com o tempo contado. No entanto, não demoramos muito até chegar ao Guincho, local que merecerá uma visita de médico da nossa parte, já que só queremos tirar uma mão cheia de fotos por aqui. Progredimos com cuidado, já que, mais uma vez, a estrada encontra-se repleta de areia em alguns pontos, e acabamos por percorrer quase toda a extensão deste magnífico local, até encontrarmos um parque de estacionamento quase vazio, perfeito para as poucas fotos que queremos tirar. Juntamos mais umas imagens ao “catálogo”, e o local onde esta sessão realmente termina... é o mesmo restaurante onde combinámos encontrar-nos ao início da tarde, sendo que desta vez optámos por uma imperial bem gelada, um complemento quase obrigatório em dias de calor.
Mais umas horas bem passadas, mais um automóvel Italiano que acrescentamos ao nosso portefólio. E vão cinco, todos este ano. Ficam os agradecimentos públicos ao David, por nos ter proporcionado uma excelente tarde, e só lhe pedimos isto em troca. Que continue a cuidar do Coupé com a mesma devoção de agora, e que o mantenha sempre tão photo-friendly e mecanicamente capaz como no dia em que estas fotos foram tiradas. Quando cuidamos de um carro, esse carro cuida de nós, e é verdade.
 Na próxima semana voltamos à cobertura de eventos, sendo que não deverá passar muito tempo até termos um novo artigo Coffee Break pronto a lançar. Fiquem atentos e... até Domingo!

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