Una Evoluzione Integrale

Desconfiamos que a Photorevvin' está, a pouco e pouco, a ganhar uma costela Italiana que, apesar de completamente não-intencional,...

Desconfiamos que a Photorevvin' está, a pouco e pouco, a ganhar uma costela Italiana que, apesar de completamente não-intencional, vai fazer com que as nossas sessões fotográficas se debrucem com alguma regularidade em automóveis Transalpinos. No artigo Notte e Giorno, afirmámos padecer de Alfite, uma doença que faz com que não consigamos passar muito tempo sem fotografar um Alfa Romeo. Infelizmente, esta doença sofre mutações quando não existe medicação adequada, o que faz com que estejamos a evoluir para a Italianite, com fortes repercussões para as baterias e cartões de memória por nós utilizados. A hipótese de cura é cada vez mais remota, pelo que não sabemos muito bem o que esperar desta maleita. Vamos dando novidades à medida que novos sintomas apareçam, têm a nossa palavra.
No passado fim-de-semana, Sábado, para sermos mais precisos, tivemos a oportunidade de passar uma tarde que, sem qualquer exagero, pode ser apelidada de memorável em vários aspectos. Não só fotografámos um Lancia pela primeira vez, como essa mesma estreia versou num dos modelos mais brilhantes da marca, cujo rumo se encontra pelas ruas da amargura nos dias que correm. Trata-se do incrível Delta HF Integrale, mais concretamente um Evoluzione I de 1992, mantido desde novo pelo Pedro, que forma com o filho, Diogo, que também nos acompanhou nesta tarde, uma dupla com um amplo conhecimento e admiração por este hot-hatch e herói de outras épocas do WRC, ou Campeonato do Mundo de Ralis, se assim o preferirem. Com pouco mais de 75.000 kms reais, e apresentando um estado de conservação praticamente perfeito, cremos não estar a cometer nenhum equívoco quando dizemos que este é um dos melhores exemplares do nosso país, o que não significa que não lhe “estiquem as pernas” com alguma regularidade. Mas centremo-nos noutros aspectos, para já.
O ponto de encontro que antecede a deslocação para o primeiro local a visitar durante a tarde é uma cidade que nos deu um dos nossos mais recentes artigos (Setúbal Especial Sprint). Estamos em Setúbal, encostados ao mar, já que o forte calor que tem pautado este Verão faz-se sentir mais uma vez. Após alguns minutos de espera, vemos uma silhueta a aproximar-se de nós, uma silhueta que não se confunde com mais nenhum dos automóveis em redor, já que não é propriamente comum avistar um automóvel igual a este no nosso quotidiano. É o Integrale! Após termos cumprimentado o Pedro e o Diogo, questionamos se podemos ir no Delta para o primeiro spot desta sessão, ao que recebemos uma resposta afirmativa. Lembram-se de termos empregue a palavra memorável nas linhas iniciais deste texto? Está na hora de justificarmos o seu uso.
Ora, Setúbal, perto do mar. Para quem está familiarizado com a geografia desta cidade, isto signifca que estamos perto da petrolheadisticamente fabulosa Serra da Arrábida, um local que merece a nossa visita com alguma regularidade, e que já foi o palco de alguns artigos deste projecto. No entanto, um Sábado de calor no mês de Agosto é sinónimo de trânsito por estas paragens. Como tal, fugimos das estradas mais... Atlânticas, tendo como primeira paragem a 7ª Bataria do Outão, um local que tem tanto de belo como de entristecedor. Mas a forma como nos deslocamos até lá é tudo menos um infortúnio, já que os 24 anos de convivência do Pedro com o Integrale revelam um enorme à-vontade em explorar todas as potencialidades deste fantástico automóvel. E de facto estamos no local certo para o fazer. Para quem não está habituado, a sensação de confiança a curvar que um eixo motriz adicional confere torna-se viciante, e o Delta revela-se uma autêntica lapa na subida para a antiga base militar. Mais que a aderência a meio da curva, surpreendem-nos as muito consideráveis velocidades com que deixamos estas para trás. Muito honestamente, andar de Integrale é o concretizar de um sonho para ambos, e não poderíamos começar esta sessão de melhor forma. Chegamos à 7ª Bataria em poucos minutos, com um sorriso que se manterá por muito tempo nos nossos rostos. Mas a diversão tem que acalmar um pouco por agora, já que é tempo de dar início ao que motivou este encontro em primeiro lugar: as fotografias.
Pedimos ao Pedro que colocasse o Integrale junto à tripla de canhões que tanto caracteriza este recanto da Arrábida, e enquanto as fotos vão sendo tiradas, este vai-nos contando a história que tem em comum com o carro. Como já referimos, o Pedro foi e é o único proprietário do Delta, tendo adquirido o carro num concessionário Lancia no Porto que entretanto fechou portas. Foram sete longos meses entre a encomenda e o primeiro rodar da chave na ignição, pautados por alguns episódios que nos dias de hoje dificilmente se repetiriam. Dos vários que o Pedro nos fez chegar, o que ficou mais retido na memória foi esta questão do vendedor do stand, quando foi solicitado ao Pedro que escolhesse os opcionais que queria ter presentes no Integrale:
– Queres ar condicionado ou tecto de abrir?
– Então mas... não posso ter os dois?
– Não...
Não podendo optar por ambos os itens de conforto, a escolha recaiu, naturalmente, no tecto de abrir, já que “pelo menos não me rouba potência ao motor”, justifica o Pedro, numa escolha que fez todo o sentido tendo em conta a natureza... recreativa de um automóvel como este. De notar que o mesmo já é de accionamento eléctrico, algo que, de certeza, não deveria ser uma funcionalidade muito comum em carros de Segmento C no início dos anos 90. Já que falámos em ar condicionado, bem que fazia falta um aparelho desses enquanto nos mantemos pela 7ª Bataria. O calor e a ausência de sombras massacram lentamente o corpo, a ponto de um de nós não ter resistido a colocar uma boa dose de protector solar, uma vez que a “fritura” da última deslocação ao Autódromo do Estoril ainda está bem presente na memória. Já a máquina, essa, não acusa o esforço, e vai guardando fotos que vemos desde logo que vão fazer parte do conjunto que aqui vêem. No entanto, e não sendo já altura de abandonar este local, torna-se necessário subir alguns metros para que o background se diversifique um pouco.
Assim que o Integrale fica posicionado num local do nosso agrado, seguem-se mais umas dezenas de fotos, sendo que foi impossível não entrarmos no edifício principal da 7ª Bataria e testemunhar o amplo estado de destruição dos vários equipamentos que o compõem, fruto de dezoito anos de total abandono e vandalismo. De certa forma, seria bom não estarmos neste local, ou podermos entrar a troco de uma pequena quantia, a exemplo do que acontece na 6ª Bataria da Raposa, na Fonte da Telha. Fica o nosso repto às autoridades competentes para que salvem este pedaço da nossa história militar enquanto ainda é possível fazê-lo, já que é um total desperdício esta magnífica vista para o oceano e para Tróia não ter aproveitamento turístico, sendo que por “aproveitamento”, referimo-nos também a “lucro”, claro está. Voltando ao belo automóvel que temos diante de nós, há uma sensação de dejá-vu que nos invade, e que sentimos nas sessões anteriores a esta, seja no Brera do Bruno, no Giulietta do Tiago ou no Spider do Zé e da Inês. É muito difícil desligar a máquina em frente a um carro Italiano. Fica sempre a sensação de que há algum pormenor que passa despercebido e que faz falta no contexto de um artigo como este. A simplicidade estilística não é de facto uma característica de muitos automóveis provenientes daquelas paragens. E ainda bem, é isso que os torna tão inesquecíveis.
Enquanto a tarde vai passando, torna-se cada vez mais notório que o Pedro e o Diogo são amplos conhecedores da história do Delta Integrale, tanto no que toca a características das diferentes versões, séries especiais ou palmarés na competição. E, no entender do Pedro, o Evo I é “O” Integrale a ter, já que foi o último que a Lancia homologou para competir no WRC. Muito embora o Evo II tenha 5 cavalos a mais, jantes de 16 polegadas (que este exemplar também apresenta, já que as originais estão guardadas na garagem) e uma gestão electrónica muito mais complexa, ganhou também um catalisador, assim como o turbo passou a ser de menores dimensões, entre outras diferenças de pormenor, tanto interiores como exteriores. Na opinião do Pedro, o Evo II acaba por ser um carro mais filtrado que o exemplar que possui, e o facto de não ter uma carreira desportiva torna-o um pouco menos desejável aos seus olhos. A dada altura, este aponta para um dos autocolantes no vidro traseiro do Delta, que faz alusão a todos os títulos mundiais de construtores conquistados pelo Integrale, com excepção ao último, o de 1992, e exclama:
Não imaginam o quão raros estes autocolantes são. Eu só tenho mais um para além deste...
…prova do respeito ao legado desportivo que é possível nutrir por um automóvel como o Integrale. E compreendemos perfeitamente que tal aconteça. Este carro é de facto um herói do desporto automóvel, e estamos cada vez mais rendidos, mais hipnotizados com a sua presença. No entanto, o hipnotismo não disfarça o facto de necessitarmos de repôr líquidos, mas também de mudar de ares. Segue-se um novo co-drive. Que chatice, não é?
Por muito que gostemos de ser nós a deixar uma serra para trás a bom ritmo, deixa-nos contentes ver outras pessoas a fazê-lo na nossa presença. Quem sabe se não nos ensinam algo pelo caminho... O destino é um café nos arredores da Aldeia Grande, um dos melhores pontos de entrada e saída da Serra da Arrábida para quem procura divertir-se ao volante. Imaginamos que não sejam poucas as ocasiões em que o Pedro conduziu o Integrale, neste ritmo, nestas mesmas estradas, apesar dos poucos quilómetros que o quadrante ostenta. A verdade é que ambos entendem-se na perfeição, com a condução rápida mas suave do Pedro a dar a impressão de que o Delta não escorre um único pingo de suor enquanto percorre este magnífico serpenteado de curvas. Um grande carro para um condutor que faz do primeiro o que quer, não há como não gostar disto. 
Mais uma vez, a viagem acaba por não durar muito tempo, e estacionamos em frente ao café acima referido. De notar que esta curta deslocação fez-nos perceber o porquê de haver apoio lateral nos bancos traseiros. De facto, bem que precisámos dele.
Saímos do carro, e sentimo-nos desde logo observados pelos poucos clientes que frequentam a esplanada. Acreditamos que o Pedro já não ligue a estes olhares, que no fundo são mais que naturais. Nós é que não estamos habituados aos mesmos, até porque já lá vão alguns meses desde que passámos por uma experiência semelhante, quando testámos o Morgan 3 Wheeler
Sentamo-nos à volta de uma mesa e, para já, uma garrafa de água bem gelada chega para acalmar o calor que sentimos. A admiração que o Pedro tem a este carro torna-se ainda mais notória quando este começa a descrever o bom ambiente dos encontros de Integrales que se fazem de norte a sul do país, que este exemplar frequenta com regularidade. Dos encontros passamos a um amigo do Pedro que come duas postas mirandesas de seguida sem qualquer problema (haja estômago), e pelo meio tocamos nos planos de futuro para este Integrale, que passam por melhorias na sobrealimentação do motor. A verdade é que a conversa vai-se acumulando e não restou nem uma gota da garrafa de litro e meio. Não saímos daqui com sede, de certeza. 
Vamos retomar a viagem.
Após mais alguns quilómetros, é muito perto da casa de Herman José, em Azeitão, que voltamos a diminuir o espaço disponível no cartão de memória. Damos de caras com uma estrada estreita e com uma vegetação bastante densa que parece teletransportar-nos para a Serra de Sintra. Resulta para as fotografias? Sem dúvida, mas passados apenas alguns minutos após a nossa chegada, começam a surgir alguns automóveis com intenções de passar pelo espaço que estamos a ocupar, o que obriga o Pedro a entrar e sair constantemente do Integrale para permitir a passagem dos mesmos. Felizmente, ninguém barafustou connosco, mas acreditamos que tenha sido o vistoso Lancia a poupar-nos alguns sermões. Obrigado, vermelhinho! Saem daqui algumas fotos, que foram possíveis graças a um período de largos minutos sem que se avistasse qualquer automóvel a querer passar nesta estrada. É de realçar a enorme participação e interesse do Diogo nesta sessão, que não raras vezes sugeriu que explorássemos determinados ângulos do Delta. Dá-nos um gosto genuíno ver as pessoas que conhecemos nas sessões a intervir no decurso das mesmas, e isso nunca esteve em falta durante a tarde. A máquina guarda já centenas de fotografias ao Integrale, mas queremos passar por um último spot. Ainda há um elemento em falta, que achamos ser importante.
Não saindo de Azeitão, ainda passam alguns minutos até chegarmos ao último local onde iremos tirar fotografias. O som carnudo mas não excessivamente alto que a linha completa em inox da Supersprint emana, assim como a excelente aderência proporcionada pelos Yokohama Advan Neova, dois upgrades perfeitos para o Integrale, são razões adicionais que ajudam a estarmos completamente perdidos de amores por este carro. Está a ser uma das melhores tardes das nossas vidas, que pena já ter estado mais longe de acabar. É perto do Palácio da Bacalhôa que decidimos encerrar esta sessão, sendo que resolvemos apostar em alguns pannings para fechar a componente fotográfica deste artigo, algo em que não temos apostado até agora nesta rubrica. É inegável que o interior do Delta é um sítio muito agradável para se estar, mas tem um problema, que de resto é comum a todos os outros automóveis alguma vez feitos. Uma vez dentro do mesmo... não conseguimos contemplar as linhas exteriores, que queremos ver em movimento. Mais uma vez, o Diogo revela-se uma preciosa ajuda, ao indicar ao pai os momentos certos para passar diante de nós. Não tiramos muitas fotos por aqui, já que o objectivo é apenas ficarmos com algumas imagens que encerrem o artigo como pretendemos, pelo que não devemos permanecer por aqui mais de vinte minutos. Assim que ficamos satisfeitos com os resultados... é hora de mais uma “afinação à Italiana”, com destino ao café onde estivemos há algumas horas. Passar uma tarde inteira a andar a estes ritmos num carro tão especial é tão reconfortante que não nos vemos a ingerir muita comida ao jantar logo à noite.
É de forma tipicamente Portuguesa que fazemos o último pit-stop da tarde, ou seja, com uma cerveja bem fresca e um pires de tremoços, sem dúvida um dos melhores petiscos que podemos consumir no Verão. Falamos dos nossos carros, passados e actuais, falamos do próximo artigo da Photorevvin'... e falamos de um reencontro com o Pedro e o Diogo, já que este não é o único carro desta simpática dupla que irá dar origem a um artigo Coffee Break. Na altura devida, adiantaremos mais pormenores. Infelizmente, a cerveja e os tremoços já chegaram ao fim, é quase hora de jantar, e ambos ainda temos uns quilómetros consideráveis a percorrer até às respectivas casas. É tempo de entrar no Integrale pela última vez.
Os sprints, que não foram poucos , ficam para trás desta vez, já que a esta hora encontramos algum trânsito, fruto do vasto número de pessoas que deixa a praia ao fim da tarde. O Diogo acciona o tecto do Integrale, para que o ar fresco deste período do dia invada o habitáculo. Fomos surpreendidos pelo excelente equilíbrio entre conforto e desportividade deste carro, seria de esperar que um carro de ralis minimamente civilizado para uso em estrada fosse bem mais áspero do que isto, mas a verdade é que os bancos têm um conforto quase Francês, o que só prova que a qualidade da Recaro é intemporal. Após alguns minutos de pára-arranca, o Deltona imobiliza-se junto ao carro em que nos deslocámos até Setúbal. Saímos do maravilhoso Italiano, retiramos os nossos pertences, e agradecemos ao Pedro e ao Diogo a excelente tarde que nos proporcionaram, repleta de gargalhadas e emoções fortes. E agradecemos aqui mais uma vez. Que grande dupla que ficámos a conhecer, que grande carro que mantém. Foi um privilégio ter um Integrale em frente às nossas lentes, e ficamos extremamente satisfeitos por este ser apenas o primeiro de alguns encontros que vamos ter com estes dois petrolheads.
Para a semana, temos mais um Italiano dos anos 90 pintado a rosso para apresentar nesta rubrica. Até lá!

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