Toys for Boys
Bugatti EB110 - Bburago
16:48
Quando arrancámos com o Toys for Boys, apenas um de nós coleccionava miniaturas, sendo que esta rubrica nasceu com o propósito de, acima de tudo, passar para artigo o maior número possível de peças dessa mesma colecção. O grave problema das miniaturas, é que “convertem” quem apenas se limitava a admirar os “carrinhos” alheios, pelo que foi apenas uma questão de tempo até a outra metade da Photorevvin' começar a adquiri-las com alguma regularidade. O artigo que hoje apresentamos, mais que uma nova abordagem a esta rubrica, é o espelho de mais uma colecção que se inicia. Daqui em diante, sempre que se justifique, passaremos a apresentar a mesma miniatura em dose dupla, o que não só nos permitirá alguma experimentação a nível fotográfico, como acrescenta variedade às sessões, uma vez que, de tempos a tempos, mostraremos exemplares de cores diferentes. Esta é apenas a ponta do véu no que diz respeito a ideias futuras para esta vertente do nosso projecto. Dentro de algum tempo, revelaremos algumas novidades que têm estado assentes no caderno.
Hoje trazemo-vos duas miniaturas de um dos supercarros mais intrigantes dos anos 90, o Bugatti EB110, aqui na velhinha mas ainda muito interessante proposta da Bburago. Se esta peça foi um sucesso comercial, com vendas bem superiores a 100.000 unidades (!), um número que não é final, uma vez que a marca ainda o produz, o mesmo não se pode dizer do modelo de estrada, que numa carreira de quatro anos, apenas viu nascer 139 exemplares, nas versões GT e Supersport, esta última mais leve, mais potente e com uma asa traseira ajustável, que entre outros, teve Michael Schumacher como um dos proprietários. O EB110 é o resultado da ambição de Romano Artioli em reerguer a Bugatti, que havia deixado de produzir automóveis em 1952, tendo a marca caído nas mãos do Estado Francês até 1987, ano em que Artioli a adquiriu. Com uma nova fábrica sedeada em Modena, a mesma localidade Italiana de gigantes como a Ferrari e Maserati, o automóvel que aí nasceu ostentava um V12 de 3,5 litros, quatro turbos, quatro válvulas por cilindro e 560 cavalos às 8000 RPM, transmitidos ao solo por ambos os eixos. Um dos motivos que tornava o EB110, assim designado como forma de homenagear os 110 anos do nascimento de Ettore Bugatti, num dos carros mais tecnologicamente avançados da época, era o chassis em fibra de carbono produzido pela Aérospatiale, (uma empresa Francesa ligada à aviação) a norma na indústria nos dias de hoje mas uma autêntica extravagância há duas décadas atrás. O resultado era um automóvel de dinâmica francamente competente, que atingia os 100 km/h em 3,2 segundos e os 343 km/h de velocidade máxima, uma marca que não bate os contemporâneos Jaguar XJ220 e muito menos o McLaren F1, mas que ainda assim coloca o EB110 como um dos super-desportivos mais velozes do seu tempo. E num dos seus vídeos, o agora apresentador do Top Gear, Chris Harris, afirma que ainda hoje, o EB110 daria muito que fazer a propostas bem mais recentes, de tão bem projectado que este automóvel foi.
Muito provavelmente, é na feliz construção do EB110 que reside a triste história da reencarnação Italiana da Bugatti. Embora a versão oficial do desfecho trágico de uma aventura que durou apenas meia década passe por um processo de insolvência, com 125 milhões de dólares em dívidas, surgiram recentemente vários artigos e até um vídeo com o próprio Romano Artioli, que referem que a marca foi alvo de um esquema de sabotagem, com ameaças por parte da concorrência mais directa aos fornecedores da Bugatti, que receberam diversos pedidos para não enviarem mais peças para a fábrica de Campogalliano, assim como existem relatos de exemplares recém-produzidos que, da noite para o dia, apresentavam problemas na coluna de direcção, mesmo após todas as verificações estarem concluídas. Segundo Artioli, o intuito seria causar um acidente a velocidades elevadas, o que resultaria em publicidade potencialmente devastadora junto da imprensa. Com bodes expiatórios ou não, a Bugatti Automobili S.p.A fechava as portas em 1995, com os exemplares incompletos do EB110 a serem assinados pela Dauer, naquele que é o expoente máximo deste automóvel: 705 cavalos, carroçaria 200 kgs mais leve e uma velocidade máxima superior a 350 km/h. Para trás fica o projecto de uma super-berlina, muito no estilo daquilo que é hoje o Porsche Panamera, o EB112, e uma participação em Le Mans no ano de 1994, que apesar de um muito interessante 17º lugar na qualificação, 5º na classe GT1, se traduziu numa desistência por acidente, perto do fim da corrida. Em 1998, a Volkswagen adquire a Bugatti... e o resto é história.
Em baixo, fica o excelente documentário produzido pela Kidston, dedicado ao EB110 e à Bugatti dos anos 90, um testemunho da ascensão e queda de um dos melhores automóveis produzidos durante aquela década:
A miniatura
As miniaturas, neste caso. Como já referimos, a reprodução que vos mostramos é provavelmente a mais conhecida à escala 1:18, uma daquelas peças que muitos rapazes tinham em casa nos anos 90 e cuja oferta nas grandes superfícies comerciais era extensa. Bburago, claro. Muito embora existissem outras marcas com o EB110 no seu catálogo, caso da Maisto ou Anson, foi sem dúvida o Bburago que se afirmou em muitas colecções. Até há bem pouco tempo, não existia qualquer proposta de um fabricante high-end, até que a AUTOart lançou uma peça excelente em todos os aspectos, menos no preço, claro está. Embora esta proposta bem mais recente seja praticamente perfeita, custa entre 250 a 285 euros, um preço difícil de justificar para muitas carteiras, sendo as nossas parte desse lote, por enquanto. Posto isto, é provável que venhamos a ceder aos encantos do AUTOart, uma vez que ambos temos um enorme respeito e paixão pelo EB110 e, mesmo estando muito satisfeitos com os exemplares que temos agora, a diferença na qualidade é pura e simplesmente incomparável. Fica desde já o aviso, é provável que no futuro façamos um artigo em tudo semelhante a este, com uma dupla de EB110 ainda mais encantadora que esta. Quem sabe...
Curiosamente, ambos escapámos ao EB110 da Bburago na infância, tendo adquirido os respectivos exemplares durante este ano. Lembram-se quando referimos no artigo relativo ao Motorclássico que saímos da FIL com uma miniatura nas mãos? Pois bem, é aqui que a mostramos. Era praticamente impossível não optar pela cor de lançamento do modelo de estrada, o lindíssimo “Bugatti Blue”. À data de escrita deste artigo, pesquisámos os websites de algumas famosas lojas Alemãs de miniaturas e demos com exemplares nesta mesma cor, sim, mas com a livery do carro que participou em Le Mans em 1994... com um preço muito próximo dos 35 euros. No nosso entender, este valor é exageradíssimo, pelo que recomendamos a compra em fóruns de miniaturas ou em sites de classificados. Ambos os exemplares foram comprados usados a preços bem inferiores, (15 e 20 euros) pelo que não vale a pena adquirir uma miniatura nova com o mesmo índice de qualidade de há duas décadas. Com este conselho dado, passemos a enunciar as razões que fazem com que ainda valha a pena adquirir este best-seller da Bburago.
Molde
Um dos melhores de sempre da Bburago, bastante competente no que toca a resumir as linhas simples, porém encorpadas do EB110. O modelo original não é particularmente comprido, as miniaturas também não, apenas detectámos duas marcas de molde nos cantos do pára-choques dianteiro, as folgas entre painéis não são demasiado pronunciadas e, mesmo com um spoiler em plástico, as formas desta peça estão muito bem conseguidas e sem diferença de tom para os componentes em metal. Uma reprodução que está a envelhecer muito bem no que toca à qualidade da carroçaria, mesmo estando no mercado há mais de 20 anos.
Nota Photorevvin': 4/5
Detalhes
O habitual nas peças clássicas da Bburago, está tudo lá, mas muitas vezes com acabamentos que poderiam ser mais satisfatórios. Começamos por destacar a execução perfeita das bonitas BBS de porca central no que toca ao desenho e dimensões, mas que infelizmente têm um brilho maior que o desejável. Gostamos particularmente da antena no tejadilho, um pormenor incomum em miniaturas desta marca, e do interior muito completo, que mesmo não tendo um aspcto estonteante, não deixa de exibir o logo da Bugatti nos pedais, bancos e soleiras das portas, tendo também um quadrante bastante legível, embora não passe de um autocolante, o mesmo se aplicando às regulações eléctricas dos bancos. Fazem falta vidros nas portas, flock no piso do habitáculo e cintos de segurança, mas não é nada que não possa ser resolvido junto de um adepto de modificações de miniaturas. O compartimento dianteiro é sem dúvida o mais pobre desta peça, com uma profusão de peças que, de tão cromadas que são, nem conseguimos perceber o que querem representar. Percebemos que a meio se encontra uma bateria cujos pormenores não são convincentes, e é só. O motor, embora seja muito monocromático, é um exemplo de profundidade, sendo que, se espreitarmos por baixo da miniatura, chegamos a encontrar a transmissão e os respectivos foles no eixo traseiro, embora, lá está, sempre com um aspecto erradamente cromado. Posto isto, a cabeça do motor exibe um nível de detalhe bastante razoável, com o lettering da Bugatti a azul e de dimensões bastante correctas. Apreciámos também o realismo dos heatshields em redor, bem como a vareta que segura o capot, o que sempre alivia algum esforço inerente às doglegs. Finalmente, embora estejamos muito satisfeitos com o brilho e espessura da camada de tinta, a casca de laranja faz-se sentir um pouco por toda a parte. Nada de muito explícito, mas seria sempre preferível ver a tinta aplicada com maior rigor.
Nota Photorevvin': 3/5
Qualidade de construção
Mais uma vez, é o Bburago clássico. Nem a antena, um pormenor frequentemente sensível em miniaturas 1:18, deixa de transmitir uma sensação de rigidez, que é inteiramente correspondida quando tocamos o plástico rijo em que foi realizada. Muito embora o farol esquerdo de um destes exemplares tenha chegado ao proprietário mal encaixado, o que até pode ter sucedido durante o transporte após a compra, foi possível colocá-lo na posição original sem que qualquer dos pontos de fixação se tenha partido, o que também mostra a solidez do plástico da óptica. De resto, a pintura dos nossos exemplares mantém-se lustrosa, os cromados não mostram qualquer indício de estarem a desvanecer e, no geral, temos aqui duas peças que mantém o bom aspecto com que saíram da fábrica. Cabe unicamente a nós manter os respectivos exemplares na condição quase excelente em que os adquirimos.
Nota Photorevvin': 4/5
Relação qualidade-preço
Na Bburago, sempre esteve presente a lógica de “paga-se o que se vê”, o que torna as criações desta marca em peças muito honestas no que toca ao bang for the buck. Como frisámos mais acima, não achamos que seja bom negócio pagar 35 euros por um exemplar novo. Não que a qualidade não justifique a despesa, até certo ponto, mas sendo esta uma miniatura tão fácil de encontrar usada e em bom estado, uma coexistência de factores que nem sempre se verifica, é esse o caminho que consideramos ser o mais viável. Há que juntar a isto o preço obsceno do AUTOart, que mesmo sendo infinitamente melhor, torna-se inatingível a muitas bolsas, o que confere alguma relevância adicional à velhinha opção da Bburago, em que 10 a 20 euros garantem que se fica com um bom exemplar na colecção. Se é certo que já deixou de ser a melhor opção nesta escala, nem por isso deixa de ser uma miniatura que honra o modelo original, e que ainda deverá manter-se no activo em muitas colecções. E o facto de existir em números tão extensos, ajuda a que não se verifique uma escalada de preços, principalmente nos exemplares com mais de uma mão no “livrete”.
Nota Photorevvin': 4/5
Apreciação Final
Há miniaturas que, por terem sido parte de muitas colecções, não raras vezes marcando o início das mesmas, acabam por se tornar intemporais, perdurando pelas vitrines como peças invendáveis ou que é preferível modificar a substituir por propostas mais recentes. De repente, vem-nos à memória o Ferrari F40, o Lamborghini Countach... e este, o Bugatti EB110, todos eles da Bburago. É daquelas marcas que, mesmo numa colecção repleta de exemplares da Kyosho, AUTOart, CMC ou outras propostas de preço mais elevado, acaba por ver sempre alguns dos seus modelos pelo meio. Como tal, é uma marca que merece o nosso profundo respeito, não tanto pela qualidade das suas peças, mas pela variedade patente na sua gama. Chegam a passar décadas até surgirem propostas de qualidade superior no mercado, tal como aconteceu neste caso.
É certo que estamos diante de uma miniatura que, mesmo na altura em que foi lançada, podia ver muitos dos seus detalhes melhorados sem um aumento dramático no preço de venda ao público. Mas, se a base é já francamente feliz, facilmente se atingem patamares superiores nas mãos certas. E até é provável que isso venha a acontecer, em pelo menos um destes dois exemplares. Manter uma colecção tem muitos “ses”, admitimo-lo...
Ficamos contentes por termos adquirido uma peça que, embora antiga, mostra ainda um patamar de qualidade que podemos apelidar de satisfatório, e que continua a ser uma opção válida para os fãs da Bugatti. Como podem ver nestas fotos, mesmo ao lado de um Veyron cujo custo de aquisição já representa um número de três dígitos, não destoa significativamente, o que o torna ainda hoje uma boa peça para ostentar na vitrine. Além disso, parte do que levou a que esta sessão se tornasse numa tarde bem passada foi o bom aspecto da reprodução da Bburago. Estamos em crer que o EB110 original está a envelhecer graciosamente, e o irmão 18 vezes mais pequeno está a seguir-lhe as pisadas. SIM, devem optar pelo AUTOart se a paixão pelo modelo de estrada é imensa. SIM, esta proposta infinitamente mais barata é uma excelente “medalha de prata”. Mesmo com budgets infinitamente distintos, o facto de haver uma proposta bem mais recente e com acabamentos com que o Bburago pode apenas sonhar, não o torna imediatamente numa má miniatura, apenas no ex-melhor. O que é completamente diferente.
Nota Photorevvin': 15/20
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